Lance Lambert – O “Dilema” de Deus

22 fev

Teologicamente não é correto dizer que Deus está enfrentando ou está diante de um dilema. Apesar disso, o Senhor enfrenta um problema enorme com o Seu chamado à intercessão.

Quando a intercessão é genuína, é o encargo do Senhor Jesus que é compartilhado pelo Espírito Santo com os Seus intercessores. O Espírito de Deus gera aquele encargo no espírito do crente. O encargo então se torna um trabalho espiritual árduo.

O apóstolo Paulo usa essa expressão quando escreve: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós” (Gl 4.19). A palavra grega é poderosa; são as próprias “dores de parto”.

Isso descreve com exatidão a experiência da intercessão verdadeira. É um encargo concebido pelo Espírito Santo, que cresce dentro do crente; e não é possível aliviar esse fardo enquanto ele não é plenamente executado. Isso é custoso e doloroso, mas seu final é um nascimento!

É exatamente esse o caminho da intercessão verdadeira. Ela começa com o Espírito de Deus gerando o encargo em nós, prossegue com as dores de parto e termina com uma nova vida!

Com muita frequência, é com dificuldade que esse tipo de intercessão intensa e persistente pode ser expressa em palavras. É como um iceberg: noventa por cento dele não são vistos, estão abaixo da superfície.

As palavras que são usadas audivelmente expressam a menor percentagem do encargo. Por essa razão, o apóstolo escreve: “… o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos (Rm 8.26b-27 – Almeida Revista e Corrigida). Essa forma de intercessão é tão profunda que até mesmo os gemidos não assumem expressão audível.

Torna-se necessário um mínimo de maturidade antes que alguém possa sentir esse tipo de luta, essa “dor de parto”. Os bebês não conseguem sentir isso, nem as crianças! Um ser humano precisa atingir certo nível de maturidade antes que possa sentir as “dores de parto”. É isso que tenho descrito como o dilema de Deus.

A Igreja de Deus está cheia de bebês! Não há nada mais bonito do que um bebê, mas quando um ser humano chega aos trinta anos, ou quarenta, ou mais, e ainda continua uma criança, isso não é normal. A Igreja está cheia de cristãos que nasceram do Espírito, mas nunca cresceram. Eles não podem ser soldados do Senhor Jesus Cristo, nem podem ser intercessores. Eles ainda não são espiritualmente adultos!

Nunca antes na história houve uma situação em que a intercessão corporativa fosse mais necessária e essencial do que a presente época. O que fará o Senhor? Se os bebês crescessem na graça e no conhecimento do Senhor Jesus, tudo estaria bem. Eles se tornariam crianças, de crianças se tornariam adolescentes espirituais, e de adolescentes se tornariam adultos.

A maturidade começa quando nos movemos da base de uma vida centrada em nós mesmos para uma vida centrada em Cristo. Quando isso acontece, não importa mais o que “nós obtemos” para nós mesmos, mas o que “Ele obtém” em nós. Não é mais “a minha alegria”, mas “a Sua alegria”; não mais “a minha satisfação”, mas “a Sua satisfação”; não mais “a minha vontade”, mas “a Sua vontade”. Esse é o início da maturidade espiritual.

Nós chamamos isso de “o dilema de Deus”. Como já afirmamos, de certa forma não é possível que o Todo-poderoso Se depare com algum dilema. O que, entretanto, Ele haverá de fazer? Onde estão os intercessores? A quem Ele pode chamar?

Onde podemos encontrar as características de um conde Zinzendorf e dos seus seguidores, que os levaram à intercessão? Onde poderemos encontrar um João Wesley, que aos 94 anos continuava viajando em lombo de cavalo no rigoroso inverno britânico, pregando quatro vezes por dia?

Onde é que encontraremos a figura de um João Knox, que, ao interceder pela salvação da Escócia, estava consumido de tal forma pelo fardo, que clamou ao Senhor: “Dá-me a Escócia, ou eu morro!”? E o Senhor lhe deu a Escócia!

Onde encontraremos hoje esse mesmo tipo de espírito que deu vigor a incontáveis servos de Deus por toda a história da Igreja? Em vez disso, o que temos é um tipo de cristianismo confortável, complacente e relaxado; uma Igreja como Laodiceia, uma situação em nada diferente daquela que vemos descrita em Apocalipse 3.

Esse é o dilema de Deus!


Lance Lambert, em “Casa de Oração”, vol. 3, a ser publicado em breve pela Editora dos Clássicos.

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