Seja um estudante profundo e prático das Escrituras

28 abr

Reuben Archer Torrey (1856-1928)

O terceiro segredo do poder de Moody, ou a terceira razão por que Deus o usou, é que ele estudava profunda e praticamente as Sagradas Escrituras.

Hoje se ouve dizer que D. L. Moody não estudava. É engano. Digo enfaticamente que ele estudava. Não estudava psicologia nem antropologia – duvido mesmo que ele conhecesse o significado desses termos –, não estudava biologia, nem filosofia, nem teologia, no sentido técnico da palavra, porém era estudante cuidadoso do Livro dos livros, que é mais digno do nosso estudo do que todos os demais compêndios existentes.

Todos os dias da sua vida, até o fim, segundo creio, ele se levantava muito cedo de manhã para meditar na Palavra de Deus. Costumava deixar sua cama às quatro horas da madrugada, mais ou menos, para estudar a Bíblia.[sociallocker]

Um dia ele me disse: “Para estudar, preciso me levantar antes que as outras pessoas acordem”. Ele se fechava em um quarto afastado do resto da família, sozinho com uma Bíblia e com seu Deus.

Jamais posso me esquecer da primeira noite que passei em seu lar. Convidado por ele para a superintendência do Bible Institute, eu já assumira a direção e estava em viagem para uma cidade onde ia presidir a Convenção Internacional de Obreiros Cristãos. Ele escreveu-me para pedir: “Terminada a convenção, venha a Northfield”. Ele soube a hora da minha chegada e foi ao meu encontro em South Verson. Convocara todos os professores da escola em Mount Hermon, e do Seminário em Northfield, para se reunirem na sua casa naquela noite a fim de discutirmos os problemas das duas instituições.

A reunião durou até alta noite, e depois da saída dos professores Moody e eu continuamos a conversa por algum tempo. Deitei-me bem tarde, mas na manhã seguinte, mais ou menos às cinco horas, ouvi alguém batendo levemente na porta. Então ouvi a voz de Moody perguntando baixinho se eu já me havia levantado. Não costumo sair da cama tão cedo, mas aconteceu que naquela manhã levantei-me de madrugada. “Venha comigo”, pediu ele, e desci. Soube então que ele já estava acordado havia umas duas horas, estudando no seu quarto a Palavra de Deus.

Pode-se falar em poder, porém ai do homem que negligenciar o único Livro dado por Deus, que serve de instrumento por meio do qual Ele dá e exerce Seu poder. Um homem pode ler inúmeros livros e assistir a grandes convenções, pode promover reuniões de oração que durem noites inteiras, suplicando o poder do Santo Espírito, mas se não permanecer em contato íntimo e constante com o único Livro, a Bíblia, não lhe será concedido o poder. Se já tem alguma força, não conseguirá mantê-la, senão pelo estudo diário, sério, intenso desse Livro.

De cada cem crentes, noventa e nove dão pouca importância ao estudo bíblico; é por isso que noventa e nove em cem permanecem fracos quando podiam ser gigantes, tanto na sua vida cristã como no serviço.

Foi em grande parte por causa do seu conhecimento perfeito e prático da Bíblia que Moody atraía multidões de ouvintes. No “Dia de Chicago”, em outubro de 1893, nenhum dos teatros da cidade ousou abrir suas portas porque se esperava que todos os habitantes da cidade iriam naquele dia passear na Feira Mundial; de fato, umas 400.000 pessoas foram à Feira. Mas, apesar das festividades municipais, Moody disse-me de antemão: “Torrey, peça o Central Music Hall para nós e anuncie para aquele dia reuniões das nove da manhã até as seis da tarde”. “Mas, senhor Moody”, objetei, “não haverá ninguém nesta parte da cidade naquele dia; nem os teatros abrirão; todo o mundo irá para o Parque Jackson para ver a Feira; não teríamos auditório nenhum.” Moody respondeu: “Faça o que eu lhe pedi”. Fui, pesaroso, e arranjei o salão, para reuniões contínuas das nove até as seis horas da tarde. Estava convencido de que haveria poucas pessoas.

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Chegado o dia, eu tinha uma parte no programa às 12 horas. Estando muito ocupado no escritório, tratando dos pormenores de uma campanha evangelística, só cheguei ao salão pouco antes do meio-dia. Não imaginara que seria difícil entrar. Chegando perto do edifício, fiquei pasmado ao ver que o salão estava repleto, o vestíbulo também o estava, e uma enorme multidão ficara na escadaria, ansiosa para entrar. Não pude chegar perto da porta; se não tivesse feito a volta ao edifício e escalado uma janela, não teria chegado ao palco para falar na hora marcada. Para o auditório, porém, se eu não chegasse teria tido pouca importância; eles não estavam ali para me ouvir; foram atraídos pelo encanto do nome de Moody. E por que queriam tanto ouvir Moody? Porque sabiam que, embora não fosse homem douto em muitas filosofias, novidades e ideias modernas, ele conhecia o Livro que este mundo mais deseja conhecer, a Bíblia.

Jamais poderei me esquecer da última visita de Moody à cidade de Chicago. Os pastores da cidade mandaram-me a Cincinati incumbido de convidá-lo para ir a Chicago e dirigir uma série de conferências. Em resposta ao convite Moody disse-me: “Se quiser arranjar o ‘Auditorium’ municipal para as manhãs e tardes da semana, para realizarmos os cultos às 10 e às 15 horas, irei”. Respondi: “O senhor sabe que Chicago é uma cidade muito ocupada nos seus negócios durante o dia e será impossível os homens saírem do seu trabalho às 10 da manhã e às 15 da tarde nos dias úteis. Não será melhor realizar as reuniões à noite e no domingo?”. “Não”, disse ele, “não desejo atrapalhar o trabalho regular das igrejas.”

Voltei para Chicago e consegui o salão, que naquele tempo era o maior da cidade, com capacidade para 7.000 pessoas sentadas, e anunciei as reuniões como pedira o orador. Imediatamente começou a chegar um dilúvio de protestos. Um deles veio de Marshall Field[1], considerado o rei do comércio naquele tempo, escrito nestes termos:

“Senhor Torrey, nós, comerciantes de Chicago, desejamos ouvir Moody, e o senhor sabe perfeitamente que nos será impossível assistir a reuniões de manhã e de tarde a essas horas. O senhor deve agendar as reuniões para a noite”.

Tendo recebido muitos pedidos assim, escrevi a Moody insistindo nas reuniões à noite. Ele simplesmente respondeu: “Faça como lhe pedi”. E assim fiz. Só desta maneira podia ficar em meu cargo.

Na primeira manhã das conferências fui, apreensivo, para o “Auditorium” meia hora antes das dez. Esperava um auditório bem reduzido. Chegando perto do local, com grande surpresa, vi uma fila quádrupla de pessoas estendendo-se por quatro ou cinco quarteirões. Entrei pela porta de trás, onde também se achava grande número de homens querendo entrar.

Quando se abriram as portas, havia um cordão de vinte policiais para reter a multidão, mas aquela massa de gente ‘não se podia conter, e a polícia ficou impotente diante dela. Antes que pudéssemos fechar as portas, oito mil pessoas haviam entrado, e acho que igual número ficou fora. Creio que ninguém mais no mundo podia ter atraído tão grande massa naquela ocasião.

Por quê? Porque Moody, apesar de saber pouco das ciências, da filosofia ou da literatura em geral, conhecia bem o único Livro que este mundo perdido quer conhecer. Os homens concorrerão para ouvir quem conhece e prega a Bíblia, mais que a qualquer outro orador ou qualquer espécie de discurso.

Durante todos os meses que durou a Feira Mundial de Chicago ninguém atraía tantas multidões. A julgar pelas notícias nos jornais, podia-se pensar que o evento religioso mais relevante daquele período seria o “Congresso Mundial de Religiões”.

Um literato de renome no Oriente foi convidado para falar naquele congresso. Ele considerou o convite a maior oportunidade da sua carreira. Escreveu seu discurso sobre o assunto: “Nova Luz sobre as Velhas Doutrinas”. Preparou-o com o máximo cuidado e pediu a seus amigos mais íntimos e mais eruditos que lhe fizessem a crítica. Eles sugeriram umas pequenas modificações, que foram aceitas. O escritor preparou de novo o discurso e de novo pediu de vários críticos as suas sugestões. Escrevendo-o pela terceira vez, ele achava que devia estar em perfeitas condições, e assim foi falar no Congresso Mundial de Religiões.

Se não me engano, era em um domingo às onze horas que ele deveria falar. Ele esperou ansiosamente até que chegasse a hora e então entrou no palco para enfrentar um auditório ”imenso”, de… onze senhoras e dois senhores! Enquanto isso, não existia naquela cidade um edifício suficientemente grande para comportar as pessoas que se congregariam a qualquer hora, do dia ou da noite, para ouvir Moody.

Homens e mulheres! Se desejam conseguir uma grande audiência e se desejam beneficiá-la, estudem, Estudem, ESTUDEM o único Livro; e preguem, Preguem, PREGUEM; e ensinem, Ensinem, ENSINEM o único Livro, a Bíblia; o Livro que é a Palavra de Deus, o único poderoso para atrair, reter e abençoar as multidões por qualquer espaço de tempo.

[1] Empresário e filantropo norte-americano, fundador da Marshall Field’s, uma das maiores cadeias de lojas de departamentos dos EUA.

Extraído do livro “Sete Segredos Para ser Usado por Deus”, de R. A. Torrey,  publicado em 2016 pela Editora dos Clássicos.

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