Andrew Murray (1828-1927)
“Quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto.” (Mateus 6:6)
Fomos criados para ter comunhão com Deus. Deus nos fez à Sua própria imagem e semelhança para que fôssemos ajustados à comunhão, fôssemos capazes de entendê-Lo e de apreciá-Lo, de entrar em Sua vontade e de nos deleitarmos em Sua glória. Porque Deus é onipresente e aquele que tudo penetra, Ele poderia viver no gozo de um inquebrável comunhão em meio a toda obra que tivesse para fazer. Dessa comunhão o pecado nos roubou.
Nada além dessa comunhão pode satisfazer tanto o nosso como o coração de Deus. Foi isto que Cristo veio restaurar: Ele veio devolver a Deus Suas criaturas perdidas e nos devolver a tudo para o que fomos criados. A comunicação com Deus é a consumação da bem-aventurança tanto na terra como no céu. Isso ocorre quando a promessa, tão frequentemente dada, se torna uma experiência completa: “Estarei contigo, jamais te deixarei nem te abandonarei”, e quando podemos dizer: “O Pai está sempre comigo”.
Essa comunicação com Deus foi estabelecida para ser nossa o dia todo, quaisquer que sejam as circunstâncias que nos rodeiem. Gozar dela, porém, depende da realidade da comunicação em nosso aposento, a sós. O poder para manter uma comunhão íntima e satisfatória com Deus o dia todo dependerá totalmente da intensidade com a qual buscamos guardá-la na hora de nossa oração secreta. O essencial é a comunhão com Deus.
Nosso Senhor ensina que este deve ser o segredo íntimo da oração secreta: fechar a porta e orar a nosso Pai, que está em secreto. A primeira e principal coisa é perceber que ali em secreto você tem a presença e a atenção do Pai. Saiba que Ele vê e ouve você. Mais importante que todos os seus pedidos, mesmo que urgentes, mais importante do que toda a sua sinceridade e esforço para orar corretamente é a certeza viva, como a tem uma criança, de que seu Pai o vê, que agora você O encontrou e que com os olhos Dele em você e os seus Nele, você agora desfruta de uma verdadeira comunicação íntima com Ele.
Cristão, em seu aposento secreto você “corre o risco” de substituir oração e estudo bíblico pela viva comunhão com Deus, o vivo intercâmbio de dar a Ele seu amor, seu coração e sua vida, e receber Dele Seu amor, Sua vida e Seu Espírito. Suas necessidades e suas declarações, seu desejo de orar humilde e sinceramente com fé talvez o ocupem tanto que a luz do semblante de Deus e a alegria de Seu amor não podem entrar em você.
Seu estudo bíblico pode ser tão interessante para você que mesmo a Palavra de Deus se torne um substituto para o próprio Deus, se torne o maior impedimento para a comunhão, porque mantém a alma ocupada em lugar de guiá-la a Deus. E saímos para nosso trabalho diário sem o poder de uma permanente comunhão, porque em nossos devocionais matutinos a bênção não foi adquirida.
Que diferença faria na vida de muitos se todas as coisas na vida fossem subordinadas a isto – quero ao longo do dia andar com Deus; meu horário da manhã é a hora em que meu Pai entra em um compromisso definitivo comigo e eu com Ele para que assim seja. Que poder seria concedido pela consciência de que Deus assumiu a responsabilidade por mim e que Ele está indo comigo; vou fazer Sua vontade o dia todo em Seu poder; estou pronto para tudo o que possa vir.
Que nobreza haveria na vida se a oração secreta não fosse somente um pedir por uma nova sensação de conforto, luz ou poder, mas a entrega da vida somente por um dia no certo e seguro cuidado de um Deus poderoso e fiel. A separação dos outros, em solidão com Deus, é, com certeza, a única forma para viver em comunhão com outros no poder da bênção de Deus.
(Extraído da revista O Vencedor, fev-2006).
► Clique aqui para ver livros de Andrew Murray.
Andrew Murray (1828-1917) aprendeu suas mais preciosas lições espirituais por meio da escola do sofrimento, principalmente após uma séria enfermidade. Os livros que escreveu são mundialmente reconhecidos pelos mais experimentados servos do Senhor nos últimos dois séculos como obras indispensáveis sobre o caminho da vida profunda com Cristo.