A. W. Tozer – Temos de ter novamente uma liderança espiritual

14 mar

A. W. Tozer

Alguém escreveu ao piedoso Macário, de Optino, que o conselho espiritual que ele dera tinha sido de muita ajuda. “Isso não é verdade” – Macário escreveu em resposta. – “Somente as falhas são minhas. Todo bom conselho foi o Espírito Santo que deu; eu apenas pude captá-lo de forma correta e passei-o adiante sem distorcê-lo.”.

Há uma excelente lição aqui que não podemos deixar passar despercebida. É a afável humildade daquele homem de Deus. “Somente as falhas são minhas.” Ele estava totalmente convencido de que os seus próprios esforços dariam como resultado apenas falhas, e de que toda boa coisa que proviera do seu conselho era uma obra do Espírito operando nele. Aparentemente isso foi mais do que um simples impulso de auto depreciação, que o mais orgulhoso dos homens toma de vez em quando. O que aconteceu foi, antes, uma convicção firme que ele tinha uma convicção que norteava toda a sua vida. Seu longo ministério, desenvolvido com humildade, que contribuiu para a vida espiritual de multidões, revela isso com clareza mais do que suficiente.

Nos dias de hoje, em que “figurões” que se projetam por aí levam a obra de Deus segundo os métodos do mundo dos espetáculos, como é bom trazermos, mesmo que por um momento, às páginas de um livro, um homem sincero e humilde que não procura projetar-se diante dos outros e que coloca toda ênfase na obra que Deus nele tinha realizado. Creio que o movimento evangélico prosseguirá em seu desvio, cada vez mais, da posição neotestamentária, até que a sua liderança abandone a postura das estrelas espirituais dos dias de hoje, tornando-se santos que a si mesmos se diminuam, e que não estejam buscando louvor algum nem posição nenhuma, e que se satisfaçam tão somente quando toda a glória é atribuída a Deus, sendo eles mesmos totalmente esquecidos.

Até que apareçam de novo homens desse quilate para assumir a liderança espiritual da igreja, a nossa expectativa será a de uma progressiva deterioração na qualidade do cristianismo das pessoas em geral, até que alcancemos o ponto em que o Espírito Santo, entristecido, retire-se tal como a glória de Deus retirou-se do templo, e assim fiquemos como Jerusalém depois da crucificação: desertada por Deus e só. Apesar de todo esforço feito para distorcer a doutrina para provar que o Espírito não abandonará os homens religiosos, pelo que temos visto está claro que às vezes o Espírito age dessa forma. No passado ele abandonou grupos que tinham ultrapassado o ponto de retorno para se recuperarem.

É uma questão ainda não definida essa a de ter, ou não, o movimento evangélico pecado demasiadamente e ter se afastado de Deus além do ponto de uma volta para a sanidade espiritual. Pessoalmente creio não ser tarde demais para que haja arrependimento, se apenas os assim chamados cristãos de hoje repudiarem toda má liderança e buscarem a Deus de novo em verdadeiro arrependimento e com lágrimas. O “se” desta frase é que é o grande problema: será que eles agirão dessa forma? Ou será que eles se encontram totalmente satisfeitos, brincando de ser cristãos, e nem se dão conta do seu triste desvio em relação à fé do Novo Testamento? Se isso é verdade, então nada nos resta a não ser o juízo de Deus.

O que o diabo constantemente faz é valer-se de coisas que chamam muito a atenção, mas que não têm valor algum. Ele sabe muito bem como desviar a atenção do intercessor cristão dos ataques sutis, porém mortais, que ele faz, de forma a que se dediquem a questões mais óbvias e menos danosas. Então, quando os soldados do Senhor reúnem-se, animados, diante duma porta, ele entra por outra, sem ser notado. E quando os “santos” perdem o interesse pela coisa com que o diabo lhes atraía a atenção, então eles voltam e encontram o recém-batizado e devoto inimigo conduzindo os acontecimentos. A tal ponto deixaram de reconhecê-lo que logo adotam seus modos de agir e o chamam de progresso.

Nos últimos vinte e cinco anos temos visto realmente uma mudança muito grande nas crenças e nas práticas da igreja evangélica, algo tão radical e inusitado que quase não dá para crer, e tudo tem acontecido de maneira acobertada por uma ardente ortodoxia. Com uma Bíblia debaixo do braço e um pacote de folhetos no bolso, as pessoas religiosas agora se reúnem para prestar “cultos” tão carnais, tão pagãos, que mal se diferenciam dos velhos espetáculos de vaudeville de outros tempos. E quando um pregador ou um editor se dispõe a denunciar essa heresia, o que ele está fazendo é dar margem para ser ridicularizado e insultado de todo lado.

Nossa única esperança é que uma renovada pressão espiritual venha a ser exercida de forma crescente por homens corajosos e despretensiosos que nada desejem a não ser a glória de Deus e a purificação da igreja. Que Deus nos envie homens assim, em grande quantidade. Eles já estão atrasados.

(Extraído do livo “Este Mundo: Lugar de Lazer ou Campo de Batalha?”, Editora Danprewan, 2000.)

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