Roujet Fuchs – Bíblia de estudo mais influente do século passado

11 ago

As notas de rodapé da Bíblia de Scofield e sua influência na teologia escatológica

1.800 anos de história

Ao longo dos tempos da Patrística (séculos 2 a 7), da Escolástica (século 9 até ao fim do século 16), dos Pré-Reformadores e dos Reformadores, abrangendo quase 1.800 anos de história, não foi apresentado nenhum tratado consistente e aprofundado sobre o arrebatamento da Igreja antes da Grande Tribulação (pré-tribulacionismo). Em todo esse tempo, muitos servos de Deus influentes ensinaram que a Igreja passaria pelo difícil processo tribulacional (pós-tribulacionismo) antes de ser arrebatada.

As menções históricas ao pré-tribulacionismo

Observam-se, em 19 séculos de história da Igreja, algumas pequenas menções ao arrebatamento dos santos antes do tempo da Grande Tribulação. Em 374, na Idade Patrística, Efraim, o sírio, parece ter sido o primeiro a mencionar esse ponto de vista, ainda que sem um tratado mais consistente sobre o assunto. Séculos depois, no ano de 1754, o pastor protestante, John Gill, fez um comentário mais extenso do que Efraim, o sírio, no qual procurou demonstrar sua posição pré-tribulacionista.

Em 1810, Lacunsa, um católico chileno, ensinou novamente a visão pré-tribulacionista; poucos anos mais tarde, Edward Irving (1792-1834), eloquente pregador escocês, contemporâneo de Lacunsa, seguiu a mesma corrente escatológica e tratou de demonstrar a segunda vinda do Senhor Jesus antes da Grande Tribulação. Ainda nesse período, uma jovem de 15 anos, Margaret MacDonald (1815-1840), teve algumas experiências místicas e profetizou sobre a vinda do Senhor Jesus em duas partes: uma secreta para o arrebatamento de um grupo seleto de irmãos e a outra pública para o arrebatamento dos santos no período da Grande Tribulação.

Darby e a sistematização do Pré-tribulacionismo

Em 1820, o influente teólogo inglês John Nelson Darby (1800-1882), da linha dos Brethren ou Os Irmãos de Plymouth, diferentemente das menções anteriores que deixaram apenas isolados pontos de vista, foi quem pela primeira vez fez uma exposição séria e exaustiva sobre o tema, sistematizando, assim, o pensamento pré-tribulacional. No entanto, o principal defensor dessa alternativa escatológica não teve o apoio de todos os seus contemporâneos; irmãos como Benjamin Newton, George Muller, William Booth (fundador do Exército da Salvação) e Charles Spurgeon eram pós-tribulacionistas. O novo ensino sobre o tempo do arrebatamento dos santos trouxe grande discussão entre os Irmãos de Plymouth a ponto de resultar em séria divisão entre Darby e Benjamin Newton.

O reconhecido expositor bíblico G. Campbell Morgan (1863-1945), que, no início de seu ministério, incorporou tal entendimento em um de seus livros, afirmou certa vez: “Conheço muito bem esta doutrina. Eu estudei profundamente esse assunto e percebi o erro de tal ensino. A ideia de uma vinda secreta de Cristo e à parte é uma divagação da interpretação profética e não dispõe de absolutamente nenhum fundamento bíblico”.

As notas de rodapé da Bíblia de Scofield

Nos Estados Unidos, o teólogo erudito Cyrus Ingerson Scofield (1843-1921) identificou-se profundamente com os ensinamentos darbistas sobre o porvir e tratou de popularizar essa nova corrente dispensacionalista de interpretação escatológica. Em 1909, Scofield publicou uma Bíblia pela Oxford University Press com comentários nas notas de rodapé, interpretando os textos bíblicos sobre o arrebatamento da Igreja sob forte inclinação e influência do ensinamento pré-tribulacionista de John Nelson Darby. A doutrina “escapista” de Darby, como ficou conhecida, foi amplamente divulgada por essas notas marginais, o que tornou a Bíblia de Scofield a maior responsável pela disseminação da doutrina pré-tribulacionista dispensacionalista nos Estados Unidos e, consequentemente, nos países para onde os missionários americanos foram enviados.

É importante ressaltar que o sucessor de Scofield, o teólogo americano Lewis Sperry Chafer (1871-1952), fundou o conhecido seminário de Dallas onde se formaram alguns dos fundadores das denominações mais tradicionais, dentre os quais o sucessor de Chafer, John F. Walwoord das Assembleias de Deus.

Fatos importantes sobre a Bíblia Scofield

– Primeira Bíblia de estudo (no estilo que conhecemos hoje, com extensas anotações e comentários no rodapé da própria Bíblia); a primeira edição foi em 1909.

– Primeira Bíblia a usar a cronologia do Bispo James Ussher (bispo anglicano do século 17 que calculou a data da criação como tendo sido domingo, 23 de outubro de 4004 a.C.) para colocar datas nos eventos da história no Antigo Testamento.

– Primeira Bíblia a oferecer um extenso sistema de referências temáticas em cadeia e referências cruzadas para auxiliar no estudo bíblico.

– Um dos principais fatores responsáveis pelo crescimento da teologia dispensacionalista no século 20.

– Principal referencial teológico e recurso de estudo bíblico do movimento conservador evangélico do século 20; influenciou fortemente o pensamento de várias gerações de pregadores, estudantes da Bíblia e cristãos em geral; era considerada padrão de doutrina fundamentalista ortodoxa.

– Vendeu em torno de 10 milhões de exemplares entre 1909 e 1967 só em inglês e mais dois milhões e meio da edição revisada de 1967.

Bíblia de Estudo

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